uma boca cheia de palavras

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Baú de Memórias Gratas

O dia começava tão tarde, e acabava tão cedo. O sol acordava e adormecia em poucos momentos. E a lua? Perdia o brilho cada vez que eu enfraquecia. Se calhar não era a lua que perdia o brilho, era eu que já não apreciava a sua beleza. A dor era poderosa e insistente, queria ganhar esta guerra que já estava perdida, mas quem tinha perdido era eu. A dor lutava, com o objectivo de não só me debilitar, mas também de me devastar por completo. Os dias passavam em silêncio, as horas apressadas determinavam a minha existência. Lágrimas fluíam nas faces da minha personalidade perdida no desespero de viver. Viver, correr, fugir do mundo, acabar no paraíso inexistente. Apenas as dúvidas e as saudades eram concretas.

Decidida a morrer, abri o baú de memórias e prendi-me às lembranças que há tanto foram esquecidas, mas a pouco e pouco voltavam tímidas. Agarrei-me às mágoas tão certas, às histórias nunca contadas, agarrei-me ao pouco pedaço de vida que ainda existia. Mas perdi a batalha, e mesmo assim começo a combater com a morte. O perigo que me espreita a cada esquina… Sei que o passado é história, é tarde demais para vivê-lo, mas quero ouvir de novo aquelas palavras doces que tantos me diziam, quero de novo sentir as paixões perdidas por medo de viver. As tardes trancadas a sete chaves no baú, as tardes de praia com aquela companhia tão imaginária, sentada nas dunas perdidas à beira mar. A minha vontade de chorar por míseros problemas, por meras discussões, tornando tudo uma tempestade num copo de água. Aquela vontade de esquecer o mundo e apagar as pessoas que faziam parte do meu ser. Pecado…Pecado condenável. Queria fazer desaparecer pilares que davam estabilidade ao meu palácio de emoções, e desmoronou. Foi esse erro irreparável que mudou o que não queria. As minhas lágrimas juntaram-se com o mar, às tristezas dos homens das ondas, às mágoas das famílias desfeitas, às vitórias das tempestades.

Dias que parecem longínquos, mas que valeram a pena…E apercebi-me que tudo na vida faz sentido, tudo vale a pena até uma rejeição. Benditas lágrimas que me tornaram forte, e hoje? Não choro, não sinto, não amo. Estou imune a sentimentos, apenas imune ao que me fez quem sou, não sou imune à doença, infelizmente.

Βγ βεατяιz Ѕιποεs

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