uma boca cheia de palavras

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Infância

Em pequena esperava ser grande. Ser médica e salvar vidas, voar e alcançar o céu. Em pequena julgava ser princesa de histórias de encantar, ter asas e o dom de sonhar.
Em pequena sentava-me no jardim, a admirar e a contar as estrelas prometendo que um dia chegaria ao fim na contagem. O vento fazia-me carícias e os doces aromas inundavam o meu pequenino coração, fazendo com que sonhasse com o final do meu conto de fadas. Sob a Lua dançava, ao sabor da música dos discretos grilos, e a luz dos pirilampos iluminava todo o jardim. Receosa mas confiante vasculhava nos estreitos caminhos das memórias e dos sonhos, tentando perceber o mistério que era a minha história.

Todos os dias jurava que anos mais tarde, me sentaria outra vez naquele pequenino e escondido jardim, e voltaria a ser criança, voltaria a sonhar sem fim. Dançaria sob o olhar protector da Lua, tocando nos pirilampos, relembrando a minha infância. Mas agora, aqui sentada não consigo cumprir as promessas já feitas. Tudo tinha mudado desde a última vez que tinha estado aqui. Agora a Lua esconde-se atrás das nuvens, tímida, com medo da noite. Os grilos já não cantam por gosto. Os pirilampos perderam o seu encanto. O vento já não acaricia como antes, é frio no seu tocar. Os aromas desapareceram e o cheiro urbano está no ar. A contagem não acaba pois a força de vontade tem vindo a perder-se.

Triste e saudosa, sentada aqui, choro lágrimas de saudade dos dias mais pequenos e felizes da minha vida. Saudade dos tempos de criança, dos sorrisos verdadeiros, dos dias gloriosos de sonhadora. Lágrimas que nunca secarão, pois eu não deixarei. Todos os dias à noite chorarei, para homenagear a infância longa e feliz que tive. Lágrimas de Cloreto de Sódio que ao tocar na minha branca e límpida pele, tornar-se-ão em pequenos e valiosos cristais.

Porque as saudades actualmente reinam o meu conto de fadas, que começou a 13 de Abril de 1995 :')

Βγ βεατяιz Ѕιποεs

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