uma boca cheia de palavras

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Medo de Sorrir

Acordei sobressaltada, num mísero quarto de mobília carunchosa de ar imponente, com medo da realidade, pensado que ontem fosse história, mas não era… Estava realmente a viver uma dor absorta, que me esmagava o coração de cada vez que respirava. Sentia-me a ferver, e o que queria dizer não saía, estava muda de espanto. Olhei em volta, e estavas ali: frágil e pequenina, desprotegida do mundo. Queria abraçar-te, queria mimar-te, mas apenas tive coragem de te dizer: “Agora está tudo bem, eu estou aqui”. Mas nada estava bem, nada batia certo. Sorriste-me de uma maneira convincente e confiante do que ouvias, tinhas acreditado numa mentira inocente. Nada estava correcto, era tão injusto estares a passar por um momento destes.

O sorriso que pendia da tua carinha de felicidade fingida, aumentou a dor que estava a viver dentro de mim… mais muda ficava de cada vez que te admirava. Mas não queria piorar a situação e sorri-te de um modo agressivo e medroso. Agarraste-me com um olhar de compaixão, abraçando-me de uma maneira doce, esboçando o sorriso sincero de que tanto gostava.

Não me contive, apenas queria desaparecer daquele sítio, não te queria ver sofrer por algo de que não tinhas culpa. Aprisionei-te nos meus braços, apertando-te contra mim para que não pudesses notar que estava a chorar. Sequei as lágrimas, sorri-te outra vez e tentei dizer-te com convicção: “Tudo irá passar, eu protejo-te”.

Eu? Como a poderia proteger? Que má actriz que era… Podias ser pequenina e frágil, mas a coragem que vivia em ti conseguia suportar até a mais penosa das desilusões, eras a minha heroína. O teu coração tinha sido estilhaçado, e esse processo ainda nem tinha chegado ao fim, mas tu lutavas como uma guerreira para convencer a felicidade que o seu lugar era a teu lado. Coração estilhaçado, quase em pó, mas valioso e ainda esplêndido. Por detrás daquela máscara frágil, havia uma verdadeira lutadora, que tinha os seus dias de guerra contados.

Este pesadelo cada vez se prolongava mais, sem fim, como um buraco negro no universo.

Então percebeste que haviam lágrimas a fluir-me na cara, aconchegaste-me e enlaçaste-me num calor viciante de que eu não queria sair. Queria pressionar no botão do stop parar aquele filme dramático, ou então fazer replay e voltar aos momentos de felicidade.

Eu queria acariciar-te, confortar-te, amar-te até ao fim dos meus dias. Desejava capturar-te deste filme que não teria fim, mas sou apenas humana certo? Então pretendia ficar abraçada contigo até ao fim do nosso sofrimento, naquele mísero quarto, com mobília carunchosa, de ar imponente.


Βγ βεατяιz Ѕιποεs

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